Colégio das Artes da Universidade de Coimbra

Doutorandos em Arte Contemporânea

Simão Monteiro

Sou arquitecto de formação, mas sempre quis ser cientista, tendo me tornado educador artístico por necessidade, e estudado história por curiosidade entre os muitos cursos académicos que frequentei (e foram mesmo muitos nos mais de quinze anos de minha vida académica exclusivamente como estudante), condição que atesta um tanto das minhas dificuldades pessoais para ultrapassar certos problemas sempre oferecidos pelas academias; e a escolha aos 17 anos de idade pela vida como artista. Diante do que se contam: as já citadas três licenciaturas; dois mestrados, um em interpretação bíblica, não certificado, do qual pude tirar muitas lições de hermenêutica e aprender a ler grego koiné e hebraico, sendo porém sutilmente “expelido”; outro em Belas Artes – Pintura, pela FBAUL, do qual não fui “expelido” durante o mestrado, por isso certificado; mas “expelido” não-sutilmente durante o doutoramento, sendo mesmo desclassificado como “agitador”. Factos diante dos quais me afirmo: um espírito livre que se comporta como um pensador inveterado e curioso, e que procura ser divertido. Ao que acrescento, ao “tenebrismo” deste meu currículo “tenebroso”, outro doutoramento controverso, visto que não fiz a defesa do volume publicamente, mas hoje estando publicado, fiquei sem o certificado. Facto que me traz até o dia actual a partir de muita azáfama, e que deu origem ao que nasce e cresce como investigação que agora apresento como método para ser aplicado e tornar-se no volume de tese final à ser defendida. Coisas que digo para evidenciar que o actual doutoramento quando terminado, sem nenhuma interrupção, terá durado sete anos formais de estudo e trabalho árduo, e oito anos totais do meu trabalho pessoal, terá gerado mais de 1000 (mil) páginas formalmente escritas para apresentações, duas teses para formar somente uma e algumas conferências (entre tantas outras coisas escritas e postas de parte) e mais de 2000 (duas mil) “observações” de obras de arte, sem contar os 33 (trinta e três) anos de todo o meu percurso de investigação pessoal até o presente dia, e as cerca de quarenta mil páginas escritas ao longo deste percurso. Coisas que infelizmente são actividades sem “valor” dentro dos “valores” que nos são exigidos pelas academias, visto que são rígidas as formalidades académicas, e exigindo o novo, contudo, sem exageros, prefere publicações, mesmo que pequenas, em vez de produção e investigação desapegadas. Mas coloquei tudo isso somente para dizer que talvez possa ter feito, desta forma, pela mais completa falta de ambição da minha parte. Gosto de investigar sem ter um propósito, nunca tenho uma hipótese de trabalho, ou talvez por serem tantas, não as tendo como enumerar, opto por fazer as coisas pelo simples gosto de as partilhar como curiosidades investigadas, mas sempre o faço com postura profissional. Condição marcante na minha personalidade e evidente neste projecto que ora vos apresento, e no qual contendo algumas gralhas, desculpo-me, acrescentando que tenho imensas dificuldades visuais causadas por um Acidente Vascular Cerebral hemorrágico ocorrido em Dezembro de 2017 (diante do qual terminei a minha tese doutoral anterior em Julho de 2018 com seiscentas páginas e algum grau de afasia à mistura, coisa que eventualmente ainda me escapa). E o que pretendo, ao dizer tudo isso, é marcar que todo o meu processo de recuperação foi utilizado como fonte real de informação biológica, linguística e fisiológica na investigação anterior, coisa que afecta à presente pesquisa, e à qual agregada como experiência neurocientífica, a partir das investigações realizadas na Fundação Champolimaud (e através das suas publicações), para além dos 10 anos de experiência em cuidados médicos com idosos dementes e ou com alzheimer, como auxiliar de acção geriátrica, juntam-se seis anos de psicanálise com analistas lacanianos, perfazendo-se assim as etapas práticas do método desenvolvido como prática sempre empírica. Condições que determinam as fronteiras da minha investigação, e diante das quais, apesar dos obstáculos de naturezas muito diversas, perfazem o longo caminho percorrido. O que me obriga inicialmente a dizer o que não é a minha investigação:

  1. Não é uma investigação ontofenomenológica; apesar de usar ontofenomenologia.
  2. Não é uma investigação artística; apesar de se aplicar ao campo das artes como epistemologia e método, para além de se apresentar numa forma de prática;
  3. Não é uma investigação científica; apesar de utilizar metodologia matemática e transdisciplinaridade.
  4. Não tem uma hipótese; apesar de lidar com cada uma das hipóteses possíveis a partir de cada um dos imprescindíveis passos realizados ao longo dos muitos anos desta investigação.
  5. Não é um método de criação; apesar de ser possível fazer arte a partir dos pressupostos desenvolvidos.
  6. Não é uma pesquisa antropológica; apesar de envolver estudos de antropologia.
Ao que acrescento que “observa” a verdade proposta por Carlos Vidal em “Invisualidade da Pintura” tratando-a como coisa preciosa em busca de (uma)-real(idade). Visto que ao embrenhar-me pela forma das “observações” vidalinas com o projecto que ora real(izo), o que “há” é uma tentativa de clarificar o “tenebrismo” da minha proposta, ao tentar alcançar a “luz caravaggesca que nos cega” apresentada pelo Professor Carlos Vidal e agora pragmatizada pelo Professor Pedro Pousada, orientadores que me ajudam a diminuir alguma da hermeticidade do que investigo e aos quais eu devo um GRANDE muito obrigado…

Entradas

1

 Observação

2

 ESTRUTURA DA TESE EM DESENVOLVIMENTO

3

 O sagrado como acessibilidade e discernimento: Invisualidade e Interpretalidade aos olhos da cultura dos povos de Timór Lorosa'e
MOTEL COIMBRA 2014

Catálogo da Exposição